Lygia Fagundes Telles

Nada mais premente do que transpor aos palcos contemporâneos a literatura de Lygia, cujos contos, sempre tão embebidos do feminino, conseguem criar uma tal infinidade de imagens e sensações que encontram, na materialidade conferida pelo espaço cênico, a real possibilidade de extrapolarem a página escrita do livro a fim de transitar por outras linguagens artísticas.

Uma das mais importantes escritoras brasileiras de sua geração, Lygia traz novas roupagens para falar de temas universais, como a morte e o amor, sempre revisitados tomando como ponto de partida o feminino, sem que se repitam velhos estereótipos a respeito da imagem da mulher.

As novas formas criadas por Lygia, trazidas à cena pelas competentes mãos de uma jovem diretora recém-saída da Academia, permitem à cena teatral contemporânea, por vezes tão endurecida, repensar-se e oxigenar-se, valendo-se de novos rostos, novas fórmulas, ou mesmo novos olhares sobre os velhos mecanismos.

Dessa maneira, num momento que muitos teóricos de teatro consideram como “reclassicizante”, em que muitas encenações têm optado pelo retorno aos clássicos, o grupo 6 Marias e Meia reforça modos outros do se “fazer-dramaturgia”, investindo nas zonas de confluência entre literatura e teatro, confluências essas que são muito mais ricas quando se usa como matéria-prima a literatura de Lygia, cujas imagens são magistralmente dotadas de teatralidade.